Cidade - 5/10/2010
http://www.jfhoje.com.br/2010/10/05/baile-funk-termina-em-praca-de-guerra


— O problema dos bailes funk é que reúnem pessoas de diversos bairros, com envolvimento no tráfico. A confusão estava generalizada, parecia praça de guerra — definiu Rolli.
Muito tumulto
De acordo com informações da Polícia Militar (PM), mesmo com a ação policial, em determinado momento a confusão superou as tentativas de contenção. Com o desenrolar do tumulto, os policiais ouviram dois disparos próximos à linha férrea. Ao chegarem no local, encontraram o jovem o 18 anos caído e com ferimento no braço direito. Ainda segundo a PM, diversas testemunhas apontaram como autor do disparo o vigilante responsável pela segurança de uma empresa próxima. As testemunhas disseram que um dos disparos foi feito em direção ao jovem e o outro para o alto. Segundo Rolli, os disparos do vigilante, de 42 anos, licenciado e com registro para porte de arma de fogo, teriam sido somente para o alto, com a intenção de dispersão. O jovem foi levado para o HPS pelos próprios policiais e lá, recebeu os cuidados médicos, sendo liberado ontem.
No local da briga, os PMs também encontraram um revólver calibre 22, com dois cartuchos deflagrados, escondido na linha férrea. Segundo Rolli, a suspeita é de que essa arma tenha sido a responsável pelos disparos que feriu o jovem e não a do vigilante.
— Já pedi para o médico que atendeu a vítima ver se é possível definir o calibre da arma através da bala — acrescentou.
A suspeita é justificada pelo fato de a arma encontrada ser do calibre 22 e a utilizada pelo vigilante ser um revólver 38. O delegado convocou os envolvidos para prestar depoimento ainda essa semana. Sobre a atitude do vigilante, mesmo com a regularidade da posse de arma, sua ação deve ter justificativa legal, pois ele pode ser indiciado por disparo de arma de fogo, conforme explica Rolli.
— Apesar do trabalho bem feito da PM, vez ou outra casos assim têm acontecido.
Segunda vítima
No HPS, um jovem, de 19 anos, contou aos militares ter sido atingido por disparo de arma de fogo, ao sair do referido baile funk. Segundo ele, não estava envolvido com a briga, tendo sido vítima de bala perdida. O incidente ocorreu na Rua Leopoldo Schimidt, vizinha à José Calil Ahouagi. A vítima teve atendimento médico e foi constatado furo no tornozelo esquerdo. Nenhum autor foi apontando e a vítima foi liberada.
Tentativa de homicídio no Nossa Senhora Aparecida
Suspeita de ter sido motivada pela confusão inicial do baile funk, outra tentativa de homicídio aconteceu também na madrugada de domingo para segunda, às 0h30min, no Bairro Nossa Senhora Aparecida. A vítima, um estudante de 17 anos, foi atingida na região abdominal. Os tiros teriam sido disparados por três autores, dois deles de moto, que cercaram o adolescente no escadão que liga o bairro ao Manoel Honório.
Segundo a vítima, ele se encontrava no local com um grupo de colegas, quando dois indivíduos, conhecidos do grupo, desceram de uma moto e começaram a atirar. O terceiro autor dos disparos teria aparecido na base do escadão e também teria começado a atirar. Os autores não foram localizados. Até às 16h de ontem, o jovem estava internado no HPS em estado estável, após cirurgia.
Problema recorrente
Além de Rolli, o problema de brigas de gangues de bailes funk também é reconhecido pelo tenente da 70ª Companhia da PM Welington Aparecido de Araújo, que afirma garantir o patrulhamento em áreas de aglomeração e locais já conhecidos como críticos pela polícia.
— O grande perigo são as pessoas que não têm técnica para usar arma de fogo. As brigas mal resolvidas de um final de semana ficam para o seguinte.
A área de abrangência da 70ª engloba a Região Leste da cidade, na qual estão os bairros Manoel Honório e Nossa Senhora Aparecida. Os problemas nos bairros também são conhecidos da unidade policial e, segundo o tenente, as rixas ocorrem até na saída de escolas.
— Damos prioridade para a área comercial do Manoel Honório e enviamos viaturas e motos para o patrulhamento na região.
No entanto, para moradores próximos dos bairros, esse patrulhamento não está sendo satisfatório, já que as brigas e tráfico de drogas são recorrentes na região. Sem se identificar, um morador afirma que, várias vezes, acontecem brigas na rua do escadão, e os policias de um posto a 100m de distância nem vão ao local.
Na referida rua, outros moradores apontam para o forte tráfico e uso de drogas.
— Já deram tiro e vejo brigas de gangues frequentemente — relata um morador, que preferiu não ser identificado.