Cidade - 11/10/2010
Hoje, quadrilhas que praticam o estelionato bancário, ou seja, realizam golpes de clonagem de cartão, furto de dados sigilosos ou mesmo enganam a população em busca de senhas de contas, contam com aparato de ponta para praticar os crimes. Segundo o delegado da 7ª Delegacia Distrital de Polícia Civil (PC) Rodolfo Rolli, a ferramenta mais moderna implementada pelas operadoras de cartão de crédito a fim de garantir a segurança de seus clientes, o chip, já não é mais empecilho para a clonagem. De acordo com Rolli, em 2010, o montante de crimes dessa natureza supera em larga escala se comparado com igual período do ano passado.

A dificuldade de representar esse crescimento vem da própria população, que, muitas das vezes, recebe o ressarcimento das agências bancárias e não comunica à PC, que por sua vez, fica impossibilitada de implementar qualquer investigação, a fim de prevenir crimes futuros. No entanto, o delegado expõe que estão em aberto dois inquéritos de cartão clonado, três do uso da ferramenta conhecida como chupa-cabras e um de retenção de cartão – esse, até poucas semanas, inédito em Juiz de Fora. Além dessa classificação inicial, o delegado elucida àqueles em que a desatenção da população acaba por esultar em cartões trocados ou senhas reveladas pelo próprio usuário.
Conheça os golpes
Nesses inquéritos em aberto, o delegado já identificou casos de clonagem de chip e destaca que, com a tecnologia e, principalmente, com a participação de pessoas envolvidas na fabricação dos chips, o processo para o furo do bloqueio implementado pela operadoras é facilitado. O chupa-cabras, nome popular para um mecanismo instalado em caixas eletrônicos, é a ferramenta responsável pela captação dos dados no momento em que o cartão é colocado no terminal. Com posse desses dados, a quadrilha consegue reproduzir perfeitamente o cartão da vítima, inclusive com a senha, dados pessoais e informações bancárias.
— Nas agências bancárias, eles colocam dentro daquele leitor de cartão. Já nessas máquinas de cartão, geralmente quem faz a manutenção está envolvido. Nós temos casos em que os lojistas, comerciantes ou funcionários sabem disso e deixam, para levarem alguma vantagem financeira — ressalta. Nesses casos de coparticipação, embora nenhuma situação concreta tenha sido provada, a PC mantém investigações.
Outra modalidade do crime é a retenção de cartão, que, até o final de setembro, era inédito em Juiz de Fora. Nesse esquema, o delegado explica que o golpe está na adulteração do leitor de cartões, que apenas é modificado para reter o cartão da vítima, enquanto o estelionatário age de persuasão para conseguir os dados e senhas. — A pessoa chega para oferecer ajuda e a vítima vai passando os dados, a senha e os códigos de segurança. Depois, quando a pessoa vai embora eles tiram o aparelho ruim, pegam o cartão e vão fazer saques, transferências e compras.
Uma quarta modalidade são os golpes em que nenhuma tecnologia é utilizada, apenas o jogo de palavras dos estelionatários. Nesses casos, o delegado explica, que o principal alvo são pessoas idosas ou aquelas muito inseguras. — Por isso, em dia de pagamento as pessoas devem redobrar a atenção. Na troca de cartão, as quadrilhas preferem atuar nos dias de maior movimento nas agências e, nas outras modalidades, elas preferem os dias de menor movimento, principalmente os finais de semana — explica.
Outro detalhe relevante para os golpistas é a própria aglomeração de pessoas, que facilita seu disfarce. Por isso, esses criminosos preferem atuar em agências na Região Central da cidade, onde a fluxo de pessoas é maior, conforme destaca Rolli. Nesses casos, geralmente as vítimas recebem ajuda de uma suposta pessoa que se identifica como funcionária do banco, e através de pura conversa, o golpe se concretiza.
— Quando essa pessoa vai ver, o cartão dela não é o original, como já aconteceram várias vezes. A própria distração das vítimas facilita a ação dessas quadrilhas — relembra o delegado. O furto mediante fraude, enquadramento mais comum nesse tipo de delito, segundo Rolli, é o crime em que a pessoa tira uma quantia da vítima através de artifícios enganosos.
— No meu entendimento, por exemplo, na clonagem de cartão a pessoa pratica, além de adulterar documentos, o crime de furto mediante fraude e não estelionato. A pena desse indiciamento vai de dois a oito anos de prisão. No caso da participação de terceiros, como os funcionários de lojas, a pena também é o mesmo período, já que o enquadramento é o mesmo.
Dificuldade de investigação
Além da falta de retorno da população, outro fator que dificulta as apurações é o modo com que esse dinheiro roubado é armazenado. Os golpistas costumam criar contas fantasmas, através de documentos falsos ou de várias pessoas, o que, nem com a quebra de sigilo bancário, é possível encontrar pista.
— Geralmente essas contas são recentes, com documentação falsa, ou eles usam laranjas —
explica Rolli, esclarecendo a utilização de terceiros para intermediar a conta bancária da receptação dos valores. Outra dificuldade é o próprio meio de aplicar o golpe. Na clonagem, a quadrilha acopla o chupa-cabras no terminal ou em aparelhos de lojas, que capta os dados em uma trilha, como explica o delegado.
— Essa trilha guarda todas as informações das pessoas que utilizaram aquilo. O golpista que instalou o chupa-cabras aqui em Juiz de Fora vai vender essa trilha para um golpista de Pernambuco, por exemplo. Então, a pessoa que teve o cartão clonado aqui vai ter o prejuízo em Pernambuco — define. Com essa intercalação de estados, as informações demoram para ser cruzadas e a quadrilha tem mais tempo para evadir e procurar outras vítimas.
Outro ponto que facilita a ação das quadrilhas é o processo prisional dos acusados. Esse ano, duas quadrilhas foram presas por clonagem, três por chupa-cabras e uma pessoa envolvida na retenção de cartões. — Infelizmente, essas quadrilhas já estão na rua. A princípio, quando você pega um dispositivo, não tem como identificar as vítimas. Até acontecer essa identificação, você depende de autorização judicial para a quebra de sigilo bancário e sigilo fiscal, e isso demanda tempo. Com esse tempo, geralmente a pessoa é colocada em liberdade, pois a legislação brasileira determina um período
em que essa pessoa responde o processo presa. Passado esse tempo, o juiz tem que colocar essa pessoa em liberdade e isso dificulta as investigações.
Saiba como se prevenir
O primeiro conselho que o delegado dá para a prevenção é manter atenção redobrada e observar bem o terminal eletrônico em que se vai realizar a transação bancária. — Antes de colocar o cartão na máquina, a pessoa deve observar o funcionamento. Em seguida, deve olhar o leitor do cartão, para ver se não tem ranhuras ou não está forçado. Também deve mexer nele para ver se não está solto — destaca.
— E no caso de desconfiar daquele caixa, nunca deve usá-lo e comunicar imediatamente para um funcionário do banco — completa. Outro conselho, que reflete muito nos golpes realizados ultimamente, é o afunilamento de terminais efetuado pelos membros das quadrilhas. — Há três caixas eletrônicos em uma determinada agência bancária. Cada pessoa está usando um, deixando apenas um caixa livre. Se as pessoas estão demorando ou enrolando, esse detalhe deve ser reparado. Pode ser um golpe. Outras medidas básicas são: utilizar sempre a mesma agência; fazer as transações em horário comercial; evitar finais de semana e feriados; prestar atenção em quem está dentro da agência; verificar se tem alguém observando; nunca aceitar ajuda de ninguém; caso tenha algum problema, ligar apenas para o serviço de 0800 ou 0400 do banco.
Crimes na internet
Rolli destaca que os crimes pela internet acontecem quase que diariamente e alerta para maior atenção por parte dos usuários na grande rede, já que a facilidade dos
hackers – criminosos virtuais – de ação é maior. Rolli acrescenta que não conhece um sistema bancário online com 100% de proteção.
— Da mesma maneira que a tecnologia vem para servir, ela vem para prejudicar. O hacker
tem conhecimento muito grande em informática e consegue invadir um sistema com facilidade muito grande. O delegado lembra de um caso ocorrido em Juiz de Fora em que um rapaz de 19 anos foi preso e praticava esse tipo de golpe na cidade e em São Paulo. O modo de agir do estelionatário nesse caso passado, explica Rolli, era simples. Ele introduzia um vírus dentro de jogos de computador e, quando a pessoa acessava os jogos, todos os dados pessoais era capturados. Outro fator relevante em relação à segurança na internet, o delegando atenta para os cuidados em lan houses, já que o fluxo de pessoas é grande e nenhum registro delas é feito pelos proprietários.
— Isso facilita a ação dos criminosos, pois esses vírus podem ser instalados. Pelo lado da polícia, dificulta, já que, como não há um registro de todos que passam pelos computadores, não se sabe quem foi o responsável.